A denominada Periodização Tática é uma concepção de treino e competição para o futebol que tem sido preconizada pelo professor Vítor Frade. A Periodização Tática
é uma Metodologiaia de Treinamento que surge há mais de trinta anos na
cabeça do Professor Vitor Frade quando, através de experiências que lhe
ocorreram, começa a questionar as Metodologias de Treinamento existentes
até o momento.
"Aspecto
particular da programação, que se relaciona com uma distribuição no
tempo, de forma regular, dos comportamentos tácticos de jogo,
individuais e colectivos, assim como, a subjacente e progressiva
adaptação do jogador e da equipa a nível técnico, físico, cognitivo e
psicológico".
(MOURINHO, 2001)
Ao
entender que o Futebol e o JOGO que uma equipe produz não podem ser
entendidos desde o Pensamento Científico Clássico (analítico e
descontextualizador) dada a sua globalidade, imprevisibilidade e
estado-não linear, decide buscar em Teorias mais adequadas aos tipos de
problemas que estão propondo, chegando as Teorias Sistêmicas, que junto a
certos Princípios Metodológicos preconizados acabaram por configurar a Periodização Tática.
A
Periodização Tática é uma Metodologia de Treinamento cuja preocupação
máxima é o JOGO que uma equipe pretende produzir na competição. É por
isso que o Modelo de Jogo assume-se como guia de todo o processo,
produzindo-se uma modelação através dos Princípios, Sub-Princípios,
Sub-Princípios de Sub- Princípios do JOGO que o formam, conseguindo
alcançar uma adaptação Específica e de qualidade ao respeitar os
Princípios Metodológicos que a sustentam. (TAMARIT, 2007). De
acordo com este autor, o processo de preparação deve centrar-se na
operacionalização de um “jogar” através da criação e desenvolvimento
contínuo do Modelo de Jogo e, portanto, dos seus princípios. Neste
contexto, a periodização e programação do processo conferem primazia
Tática, ou seja, regula-se no desenvolvimento de uma organização
coletiva que sobre condiciona a variável física, técnica e psicológica. O
processo centra-se na aquisição de determinadas regularidades no
“JOGAR” da equipe através da operacionalização dos princípios do Modelo
de Jogo assumindo-se por isso, num Treino Específico.
"Aspecto
particular da programação, que se relaciona com uma distribuição no
tempo, de forma regular, dos comportamentos tácticos de jogo,
individuais e colectivos, assim como, a subjacente e progressiva
adaptação do jogador e da equipa a nível técnico, físico, cognitivo e
psicológico".
(MOURINHO, 2001)
A
definição acima dada pelo treinador português José Mourinho sobre o seu
conceito para a periodização contempla o que para ele são os quatro
aspectos fundamentais que o treinamento deve abranger de uma forma
indissociável. Defende que toda sessão de treino deva ser realizada com
bola de forma que o atleta pense no jogo. Para Carvalhal (2003) a
primeira preocupação nessa periodização é o jogo, com ênfase em treinos
situacionais e em situações de jogo, com o treino físico (ou da
dominante física) inserido no mesmo.
Essa
forma de periodizar é contrária aos modelos tradicionais, em que as
prioridades do treino são outras; em que os aspectos físicos, técnicos,
táticos e psicológicos possuem sessões particulares de trabalho, sendo
em alguns momentos “integrados” em treinamentos físico-técnicos ou
técnico-táticos que apesar da presença da bola não possuem como objetivo
central a melhora da qualidade do jogo.
Considerando
como epicentro do jogo o aspecto tático, a Periodização Tática citada
pelos treinadores acima tem como referência o Modelo de Jogo Adotado e,
com isso, os outros aspectos devem estar presentes sempre nas sessões de
treinos, pois sem eles o jogo em alta qualidade torna-se fora do
alcance. A tática é pensada como aspecto central da construção do
treino, de forma que as outras capacidades sejam desenvolvidas por
“arrasto”, de forma contextualizada e identificada com a matriz de jogo
proposta.
Para
isso nas sessões de treino são desenvolvidos exercícios que construam e
potencializem a forma de jogar exacerbando algumas situações (princípio
metodológico das propensões) que o treinador eleja como prioridade
naquela sessão.
Dentro
da Periodização Tática não faz sentido um mesociclo apoiado em
microciclos que tenham em sua estrutura perspectivas praticamente
idênticas pautadas ou na variação de volumes de carga, ou de prioridades
físicas, ou nas pendências fisiológicas. Na perspectiva do Modelo de
Jogo Adotado, o microciclo segue uma progressão complexa relacionada ao
processo e compreensão da lógica do jogo e ao modelo de jogo a se jogar.
Podemos
dizer que uma equipe de futebol é um sistema aberto, adaptativo e
homeostático. Um sistema é um conjunto de elementos ou partes que se
inter-relacionam entre si a fim de alcançar um objetivo concreto,
Moriello (2003) apud Tamarit (2007). O autor acrescenta que se criam
duas características fundamentais que descrevem um sistema. A primeira é
que uma troca em qualquer destas partes influenciará no resto das
partes. E a segunda, nos fala da obrigatoriedade da existência de um
objetivo comum.
Desta
forma, podemos afirmar que uma equipe de futebol é um sistema onde um
conjunto de jogadores se inter-relacionam entre si com o fim de alcançar
um objetivo comum (um JOGAR determinado, com o fim de conseguir a
vitória que é o fim de qualquer esporte).
Quando
falamos de sistema (equipe) não devemos esquecer que este se encontra
dentro de um meio ambiente (contexto) que afetará tanto em seu
funcionamento como em seu rendimento (Moriello, 2003 apud Tamarit,
2007). Segundo o autor existem diferentes tipos de sistema, e entre eles
podemos encontrar: “os que apresentam alguma ou muita inter-relação com
o meio ambiente se denominam “Sistemas Abertos” e os que se relacionam e
se adaptam ao entrono “Adaptativos”. Uma equipe de futebol assim como o
JOGO que produz serão Sistemas Abertos Adaptativos, devido ao seu alto
grau de inter-relação com o meio ambiente assim como, sua capacidade de
adaptação a este.
Além,
uma equipe de futebol também pode ser definida de Sistema
“homeostático” à medida que, “a homeostase define a tendência de um
sistema a sua supervivência dinâmica. Os Sistemas altamente
homeostáticos seguem as transformações do contexto através de ajustes
estruturais internos”. Moriello (2003) apud Tamarit (2007), é exatamente
o que ocorre em uma equipe de futebol, que vive em um contínuo
intercambio entre ordem e desordem interna com o objetivo de se
auto-ajustar estruturalmente a necessidade do momento.
Se
uma equipe de futebol é um Sistema, o JOGAR passará, por tanto, a ser
definido como um Sistema de “Sistemas” – Sistema Complexo (Gomes, 2006)
devido a que “expressa às relações de cooperação entre os companheiros e
de oposição com os adversários”, o que é o mesmo, entre as lutas de
Sistemas (equipes) por um objetivo final (a vitória).
O
futebol (JOGO) e o jogo que uma equipe produz, é então um fenômeno
complexo, já que se constituem por diversos componentes (tático,
técnico, físico e psicológico, e estratégico em algumas ocasiões) e
momentos (momento ofensivo, momento defensivo e as suas duas transições)
que formam parte de um todo e que não podem existir de maneira isolada
do resto, já que os fatores que as formam são inseparáveis (“integridade
indissociável” do JOGO). E não só por isso, mas por que se compõem de
uma grande quantidade de elementos relativamente idênticos
(regularidades que se dão no JOGO de uma equipe) e, também cumprem com o
referido anteriormente, dada sua imprevisibilidade, instabilidade e
aleatoriedade, pois como diz Carvalhal (2003), “a imprevisibilidade e a
aleatoriedade próprios do futebol fazem deste uma estrutura
multifatorial de grande complexidade”. Também a isso refere-se Garganta
(1997) apud Tamarit (2007), quando diz que: “na aparência simples de uma
partida de futebol, está presente um fenômeno muito complexo, devido a
elevada imprevisibilidade e aleatoriedade dos fatos do jogo [...]”.
A
Periodização Tática emerge, na prática competitiva (principalmente em
Portugal nesse momento), como uma nova proposta de periodização para os
jogos coletivos, respeitando suas características e nesse caso
aprofundando nas particularidades e complexidades do futebol. Surge como
alternativa para a periodização tradicional que têm, em grande parte de
seus idealizadores, origem em esportes individuais ou com um curto
período competitivo. Parte do pressuposto de que esportes coletivos,
como o futebol nesse caso, com longos períodos de competição necessitam
de regularidade competitiva, não tendo nos “picos de forma” esse
objetivo atingido. Os picos do Modelo de Jogo tornam-se as metas a serem
buscadas e que, pelos constantes processos de construção do mesmo
proporciona um desenvolvimento contínuo.
A
Periodização Tática mostra uma preocupação com a qualidade do jogo e
rompe com conceitos cartesianos fincados em nossa sociedade. Seus
conceitos, ideias e perspectivas passaram agora pelos portões das
universidades, rumo à batalha contra os achismos que ainda imperam no
futebol (ou por tradicionalismos ou pela falta de conhecimento
científico).
Referências
CAMPOS, Carlos. A
Justificação da Periodização Táctica como uma fenomenotécnica: A
singularidae da INTERVENÇÃO DO TREINADOR como a sua impressão digital. MCSports, 2008.
CARVALHAL, Carlos. "Periodização táctica. A coerência entre o exercício de treino e o modelo de jogo adotado" Documento de apoio das II Jornadas técnicas de futebol da U.T.A.D, 2003
GOMES, Marisa S. Do Pé como Técnica ao Pensamento Técnico dos Pés Dentro da Caixa Preta da Periodização Táctica – um Estudo de Caso. Dissertação de Licenciatura na FCDEF, 2006.
MOURINHO, José. "Programação e periodização do treino em futebol" in palestra realizada na ESEL, no âmbito da disciplina de POAEF, 2001.
OLIVEIRA, Bruno F.M., AMIEIRO, Nuno., RESENDE, Nuno., BARRETO, Ricardo. Mourinho. Por qué tantas victorias? MCsports, 2007.
TAMARIT, Xavier. Qué es la “Periodización Táctica”? Vivenciar el <> para condicionar el juego. MCSports, 2007.
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