Os exercícios de treino, em qualquer modalidade esportiva, são a principal ferramenta de trabalho de treinadores e preparadores físicos. É através deles quejogadores e equipes buscam o maior desenvolvimento de suas capacidades de jogo.
O
objetivo deste texto é discutir uma metodologia específica de
exercícios que pode ser usada para a melhoria das capacidades físicas,
porém, a nteriormente à esta discussão, fez-se necessário entender um
pouco a respeito da história da Preparação Física (PF) aplicada a o
futebol.
A
PF no Futebol, bem como em outros esportes coletivos, teve seu grande
“boom” de desenvolvimento durante a década de 70. Alguns pesquisadores
sobre o assunto afirmam que o período anterior aos anos 70 pode ser
considerado como a pré–história da PF.
O
principal motivo que culminou no grande desenvolvimento da PF foi a
descoberta dela enquanto diferencial competitivo, ou seja, as equipes
melhores condicionadas fisicamente começaram a conquistar mais vitórias.
Assim,
houve uma corrida em busca de profissionais preparados a desenvolver
estas capacidades nos atletas, aparecendo desta maneira uma figura muito
importante no cotidiano atual do Futebol, o preparador físico.
Porém,
naquela altura os profissionais mais preparados para desenvolver este
tipo de trabalho não se encontravam no Futebol, e sim no Atletismo, na
Natação, no Levantamento de Peso, entre outras modalidades individuais,
com características bem diferentes do Futebol (Espín, 2002 e Bezerra.
2001). Desta maneira a metodologia empregada na PF do Futebol também foi
“importada” destes esportes, metodologia esta que era baseada na Teoria
do Treinamento de Matveév.
Nos
dias de hoje, em centros de excelência no treinamento do Futebol há uma
busca cada vez maior pelo aumento da especificidade no treinamento. Uma
das alternativas para resolver este problema é a utilização de
exercícios que contemplem uma estrutura de rendimento que seja próxima à
realidade do jogo. Para isto, estes exercícios devem conter componentes
técnicas, táticas, estratégicas, físicas e até mesmo psicológicas que
são encontradas no jogo de Futebol. Estes exercícios são chamados de
exercícios integrados (Chirosa Rios e Chirosa Rios, 2002).
Sá
(2001, p. 20) afirma que estes exercícios, sob a forma de jogos
reduzidos, possuem elevada ligação aos problemas de jogo, ou seja, com
os problemas que tanto jogadores, quanto equipes, devem resolver
dentrodo campo.
Giménes
(1999) afirma que através da manipulação de algumas variáveis nos jogos
reduzidos é possível induzir o comportamento dos jogadores e
conseqüentemente induzir a orientação para os diferentes problemas de
jogo. Estas variáveis são:
- bola: tamanho, peso e quantidade;
- metas: tamanho, número e até mesmo na forma de se atingi–la (a meta pode ser transformada em zonas específicas no campo, tempo de posse de bola, número de passes consecutivos, entre outras);
- espaço: dimensões e forma;
- jogadores: quantidade;
- tempo: duração;
- regras: podem ser adicionadas regras que vão limitar ou induzir a ação dos jogadores; ex: número de toques consecutivos na bola permitidos por jogador, obrigatoriedade de circulação de bola pelos integrantes da equipa, entre outras.
Segundo
Puygnaire e col. (2003), é possível também atingir um objetivo físico
determinado, durante a realização de um jogo reduzido, através da
manipulação destas mesmas variáveis supracitadas. Ou seja, a manipulação
destas variáveis vai provocar também a modulação da intensidade do
exercício no jogo reduzido, e assim, atingir uma capacidade física
específica. Para Ferreira (2002), no treino desportivo podem ser
consideradas cinco grandes zonas de intensidade. Segundo o mesmo autor
anteriormente citado, o treino nestas zonas de intensidade promoverá no
organismo algumas adaptações específicas:
Quadro
1: Zonas de intensidade e suas adaptações específicas no organismo
(adaptado de Ferreira, 2002 e Chamoux e col., 1988) Puygnaire e col.
(2003) sugerem alguns jogos reduzidos para o treino em algumas das zonas
de intensidade citadas anteriormente:
Capacidade Aeróbia:
–
A duração do exercício deverá situar–se entre 25 e 50 minutos; a
intensidade, determinada pela FC, deve situar–se entre 140 e 160 bpm
(aproximadamente 80% FCmáx).
–
Duas equipas de oito jogadores enfrentam–se num espaço de 50×40 metros;
o objetivo é a manutenção da posse de bola dentro deste espaço. Marca
um ponto a equipa que fizer oito passes consecutivos.
– O jogo reduzido possui duas partes de 10 minutos com cinco minutos de intervalo.
Potência Aeróbia:
–
Volume de trabalho de aproximadamente 20 minutos; o tempo de trabalho
deverá ser igual ao tempo de recuperação (entre jogos); a FC deve
situar–se entre 170 e 190 bpm (aproximadamente 90% FCmáx);
–
Atuam 12 jogadores mais dois guarda redes, na zona central da metade do
campo (meio campo de comprimento e a largura se estende pelo tamanho da
área) joga–se 3×3;
–
Realizam–se oito repetições de dois minutos e 30 segundos de trabalho
com descanso ativo em mesmo intervalo (um grupo trabalha e outro
recupera).
A
partir dos exemplos apresentados anteriormente, pode–se notar que as
variáveis manipuladas nos jogos reduzidos foram: a meta, no primeiro
exemplo, que passou a ser o número de passes consecutivos e, em ambos os
exemplos, o número de jogadores, o espaço e o tempo foram reduzidos.
O
Quadro 2 apresenta alguns valores de referência para a construção a
partir da modulação das variáveis anteriormente citadas, como tempo de
jogo, número de jogadores, campo de jogo, regras, entre outras, de
exercícios integrados que visem o treino da capacidade anaeróbia e da
potência anaeróbia.
Quadro
2: Valores de referência para a construção de exercícios integrados
para o treino de capacidade anaeróbia e potência anaeróbia (adaptado de
Ferreira, 2002)
Conclusões
Conclusões
Observamos
com esta discussão uma alternativa para o treinamento físico aos
exercícios com origens em modalidades individuais, mais freqüentemente
observados sob a forma de corridas, que por isto podem ser considerados
bastante inespecíficos ao jogo de futebol. Porém, em nenhum momento
neste texto foi defendida a substituição de um tipo de exercício em
detrimento de outro.
Podemos
consideram sim que ambos os métodos possuem utilidade, e que cabe ao
treinador, ou preparador físico, saber optar por aquele que melhor vai
resolver seus problemas e ajudar a obtenção de seus objetivos.
Referências:
Bezerra, P. (2001). Pertinência do exercício de treino no futebol. Treino Desportivo. n. 15. v. 3. p. 23–27.
Bezerra, P. (2001). Pertinência do exercício de treino no futebol. Treino Desportivo. n. 15. v. 3. p. 23–27.
Chamoux,
A.; Fellmann, N.; Mombaerts, E.; Catilina, P.; Couldert, J. (1988).
Football professionnel – sur le terrain, suivi de l’entrâinement par la
fréquence cardiaque et la lactatémie. Medicine du Sport, n. 62, v. 2, p.
88–93.
Chirosa
Rios, L. J.: Chirosa Rios, I. (2002). El trabajo integrado dentro del
entrenamiento de un procedimiento de juego en Balomano. Asociacion de
Entrenadores de Balomano. Revista Digital–http://www.aebm.com. Ref.
Comunicação Técnica 176.
Espín, J. M. (2002). Entrevista de metodología y planificación. Training Fútbol , n. 74, p. 9–17.
Ferreira,
A. P. (2002). O treino em Circuito – uma solução para (também) treinar
resistência nos jogos desportivoscolectivos. Treino Desportivo, n. 17,
ano IV, p. 29–33.
Giménes,
A. M. (1999). Efectos de la manipulación de las variables estructurales
en el diseño de juegos modificados de invasión, Educación Física y
Deportes. Revista Digital–http://www.efdeportes.com . ano 4, n. 16.
Puygnaire,
A. R.; Sánchez, J. S.; Cabezón, J. M. Y. (2003). El entrenamiento
aeróbio del futbolista. Educación Física y Deportes. Revista
Digital–http://www.efdeportes.com, n. 58, ano 8.
Sá,
P. (2001). Exercícios complexos de treino – influência das variáveis
espaço, tempo, e número de jogadores na intensidade do esforço de um
exercício de treino. Tese de Mestrado. FCDEF–UP
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