O
futebol profissional de alto rendimento apresenta algumas
particularidades em comum nos cinco continentes, mais notadamente nos
grandes clubes sul-americanos e europeus: elevado número de jogos,
competições simultâneas, pouco tempo para preparação geral (pré
temporada) e elevada cobrança por resultados (necessidade de alto
rendimento durante todo o ano), ou seja, as equipes se vêem na obrigação
de entrar em todas as competições que disputam com o time em condições
de brigar pelo título.
A pressão da imprensa
esportiva, dos torcedores e dos próprios dirigentes é elevada e nenhuma
dessas partes quer saber se há condições adequadas para uma boa
preparação ou não. Por essas razões, as periodizações tradicionais:
Matveyev, Verkhoshanski e outros, não têm lugar no futebol profissional
como exemplificado acima. Se existe a pressão para disputar todas as
competições do calendário anual em condições de ganhar o título, não
haveria coerência em estabelecer metas para obtenção de um pico de
performance que, como se sabe, tem duração limitada, vindo a seguir um
período de decréscimo no desempenho.
É
característica do futebol exigir um desempenho ótimo, não máximo, em
praticamente todas as capacidades físicas. Desta forma, um modelo de
periodização que consiga manter um desempenho “apenas” ótimo, mas que
perdure ao longo de toda a temporada seria o mais indicado.
Alguns
modelos de periodização, que têm sido utilizados de maneira mais
coerente com o calendário do futebol, seriam a periodização com cargas
ondulatórias (Tschiene,1990), (Manso; Valdivielso; Caballero, 1996), o
modelo de Cargas Seletivas (Gomes, 2002) e a chamada Periodização
Tática, citada por Oliveira (2005), Carvalhal (2003) e Mourinho (2001).
Estes modelos preconizam algumas características em comum como: período
geral curto ou até mesmo inexistente, ênfase em trabalho específico,
intensidade alta durante toda a temporada e volume mais ou menos
constante.
Cargas Ondulatórias:
Como
o próprio nome diz, as cargas de treinamento são distribuídas ao longo
da temporada de forma ondulatória. Alternando-se Volume e Intensidade
sem baixar de 80% de seus potenciais máximos de carga, ou seja, uso
contínuo de uma elevada Intensidade, utilização predominante de trabalho
específico de competição, utilização de intervalos profiláticos. Como
não objetiva atingir um pico de performance, mas manter um bom nível de
rendimento ao longo de toda a temporada, é importante que o nível
técnico da equipe seja alto e homogêneo como forma de compensar a
inexistência de um índice máximo de performance.
Cargas Seletivas:
Caracteriza-se
por um período geral curto (como é comum no futebol brasileiro),
seguido de período específico onde se prioriza a intensidade e as
capacidades relacionadas à velocidade. O Volume permanece praticamente
inalterado. Objetiva o rendimento sub-máximo em cada capacidade. A
capacidade aeróbia, por exemplo, com exceção do período geral
(pré-temporada), não necessitará ser trabalhada através do seu
treinamento específico e/ou isolado, uma vez que todas as outras formas
de treinamento (treinos anaeróbios, coletivos, etc.), além do próprio
jogo em si, já serão suficientes para mantê-la em um nível adequado para
a prática do futebol em alto nível de rendimento.
Periodização Tática:
Contextualização
do jogo, da equipe, dos jogadores, das competições, etc. A componente
tática como ponto central da preparação; o Modelo de Jogo Adotado exige
uma integração onde estarão subjugadas à dimensão táctica as restantes
dimensões: Técnica, física e psicológica, as quais serão desenvolvidas
“a reboque”. O Princípio da Especificidade é quem dirige a Periodização
Táctica. O meio de operacionalizar o Modelo de Jogo são os exercícios
específicos, exercícios desenvolvidos com Intensidade em concentração,
de acordo com o Modelo de Jogo Adotado e serão os meios mais eficazes
para adquirir uma forte relação entre mente e hábito.
A
operacionalização do treino exige a utilização de exercícios
específicos desde o primeiro dia de treinamento da temporada. Impõe-se
uma inversão no binômio Volume-Intensidade, a Intensidade é quem
"comanda", e o Volume é o somatório de frações de máxima intensidade
(Volume da qualidade) de acordo com o Modelo de Jogo Adotado. Esta
periodização obriga o Princípio da Estabilização, de forma a permitir os
patamares de rendimento. A Estabilização da Forma Desportiva conseguese
com base na estruturação de um determinado microciclo, onde o grau de
desgaste semanal seja similar de semana para semana. A estrutura básica
do microciclo deve manter-se (os momentos de treino, a duração, etc), o
que leva a uma estabilização de rendimento. Faz sentido falar em forma
desportiva coletiva, que está ligada ao jogar (bem) de acordo com o
Modelo de Jogo Adotado. A referência que serve como indicador é: "jogar
melhor". Ausência de trabalho geral e de trabalho isolado das
capacidades físicas. O trabalho dentro da especificidade desde o
primeiro dia de treinamento tem como objetivo o imediato desenvolvimento
do esquema de jogo da equipe, alternando as intensidades através de
conceitos como: tempos, densidade, pausas, continuidade, concentração,
intensidade de concentração, esta especificidade sendo o mais próximo
possível da realidade de jogo. As periodizações tradicionais seriam
indicadas para equipes de pequeno ou médio porte e para categorias de
base, onde a pressão por resultados e o número de competições disputadas
no ano seriam, teoricamente, menores.
FONTE: http://walbrasil.webs.com/
Nenhum comentário:
Postar um comentário