segunda-feira, 24 de outubro de 2011

LESÕES MUSCULARES

Das lesões mais freqüentes no esporte, as musculares certamente são as mais comuns. Segundo alguns estudos estima-se que as lesões musculares abranjam 10-30% das lesões esportivas. Além disso, elas são a principal causa de afastamento de futebolistas dos gramados por volta de 30% dos casos.

As distensões geralmente ocorrem em esportes que exigem esforço muscular explosivo, como também em esportes que exigem paradas bruscas (desaceleração) ou uma perigosa combinação de aceleração/desaceleração, como no basquete, na corrida de velocidade, em vários tipos de saltos do atletismo, no futebol americano e futebol.

As lesões causadas por um trauma direto no corpo muscular são conhecidas como contusões, normalmente o músculo é pressionado contra o osso subjacente, um bom exemplo, é o famoso “tostão” no futebol , quando o joelho de um atleta choca-se contra o quadríceps do adversário, resultando em laceração muscular e sangramento. As contusões costumam estar presentes nos esportes de contato e a musculatura do quadríceps é mais afetada principalmente pela sua localização e pelo seu tamanho.

As lesões indiretas são conhecidas como estiramento ou distensão. E são resultantes de uma força intensa aplicada na unidade musculotendinosa. Quando a força é maior do que a resistência ou excede a flexibilidade da unidade musculotendinosa, o músculo, a junção músculo tendão ou o tendão vão se romper. Em alguns casos, a ruptura ocorre na inserção óssea da unidade musculotendinosa resultando em fratura por avulsão.

As contusões representam a lesão primaria do músculo quadríceps e as distensões musculares são a lesão mais comum dos isquiotibiais e adutores. Normalmente resultam de desequilíbrio muscular, flexibilidade precária, estiramento excessivo, contração muscular violenta contra uma grande resistência, coordenação motora ineficaz e discrepâncias no comprimento dos MMII.

As distensões podem ser classificadas de acordo com o grau de ruptura em leves (primeiro grau), moderada (segundo grau) e severa (terceiro grau). Na distensão de primeiro grau, não ocorre ruptura total na unidade musculotendinosa. Pode haver um pequeno edema localizado e dor, não há perda significativa de força nem restrição de movimentos. Os movimentos ativos ou alongamentos passivos podem causar dor no sítio da lesão. A recuperação pode acontecer em apenas uma semana.

A distensão de segundo grau envolve uma ruptura muscular mais significativa, mas não completa. Porém resulta na perda da força muscular e limitação na movimentação ativa das articulações adjacentes. Devido a hemorragia, manchas roxas (equimose) aparecerá na região da lesão ou em localização mais inferior devido a ação da força de gravidade. A recuperação é mais lenta e pode afastar o atleta da pratica esportiva por mais ou menos três semanas.



A distensão de terceiro grau envolve a ruptura completa de um ou mais componentes da unidade musculotendinosa e a movimentação nas articulações adjacentes é gravemente restrita. Frequentemente o sítio dessa ruptura é claramente visível. Um bom exemplo ocorre nas lesões distais do bíceps braquial, onde o local da ruptura fica claramente evidenciado. O tempo necessário para cicatrização de uma ruptura muscular completa pode chegar até 16 semanas, dependendo da localização e extensão da lesão, como também da forma de tratamento, cirúrgico ou conservador.



Conforme mencionado anteriormente, quando ocorre uma lesão na unidade musculotendinosa os vasos sanguíneos também se rompem , conseqüentemente as metas iniciais do tratamento são a contenção do sangramento como também evitar a propagação da lesão. O tratamento é feito com aplicação de faixas compressivas elevação e imobilização da extremidade lesada, crioterapia (gelo) e antiinflamatórios prescritos pelo médico.

Após as primeiras 48 horas, o alongamento passivo leve do músculo lesado deve ter inicio evoluindo para um programa mais intenso, conforme a tolerância do paciente. Lembrando que esses exercícios devem provocar dor mínima quando realizados. Os alongamentos balísticos devem ser evitados em virtude desse tipo de alongamento poder causar novas lesões.

Os exercícios musculares devem ser iniciados entre o segundo e o quinto dia, dependendo da natureza da lesão, obedecendo a seguinte ordem: exercícios estáticos sem carga, exercícios estáticos com carga leve, exercícios dinâmicos com cargas progressivas, treinamento funcional e proprioceptivo.

A lesão muscular é considerada totalmente tratada quando não há mais dor ou sensibilidade a contração completa do músculo. Uma vez restabelecida a função muscular, a flexibilidade das articulações adjacentes e o padrão normal de movimentos o atleta estará apto a retornar as suas atividades esportivas.

Bibliografias recomendadas:

1. Lesões do Esporte: prevenção e tratamento. Lars Peterson e Per Renstrom. 3a edição. Editora Manole.
2. Técnicas de Reabilitação em Medicina Esportiva. Wiliam E. Prentice. 3a edição. Editora Manole.
3. Reabilitação Física das Lesões Desportivas. James R. Andrews; Gary L. Harrelson; Keven E. Wilk. Segunda edição. Editora Guanabara Koogan
4. Fisioterapia na Ortopedia e na Medicina do Esporte. James A. Gould. Segunda edição. Editora Manole

Fonte: Marco Antônio Chagas 



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Lesões Musculares Parte II (distensão dos isquiotibiais)


Os isquiotibiais são um grupo de músculos que se localizam na região posterior da coxa. É formado pelo semitendinoso, semimembranoso e pelo bíceps femoral. Como o próprio nome diz, esses músculos se originam no ísquio (tuberosidade isquiática) e se inserem na tíbia. Com exceção para o bíceps femoral, que se insere na cabeça da fíbula e se divide em duas porções, longa e curta; a cabeça longa se origina na tuberosidade isquiática e a cabeça curta na linha áspera do fêmur.

Apesar de ter o mesmo ponto de inserção, alguns autores consideram a porção curta do bíceps femoral como um músculo completamente “separado”, uma vez que o mesmo é mono articular e principalmente pelo fato de ter uma inervação diferente dos demais músculos do grupo; enquanto todos os outros são inervados pelo ramo tibial do nervo ciático, a cabeça curta do bíceps femoral é inervada pelo ramo fibular do mesmo nervo, sendo um fator relacionado a etiologia das distensões dos isquiotibiais.

Como são músculos biarticulares, movimentam tanto a articulação do quadril quanto a do joelho. No quadril, atuam como extensores dessa articulação, enquanto no joelho atuam na rotação interna (semitendinoso e semimembranoso) na rotação externa (bíceps femoral) e na flexão.

Muitas teorias procuram explicar as causas da distensão dos isquiotibiais. O desequilíbrio em relação ao principal antagonista (quadríceps) é uma das mais aceitas, segundo ela os isquiotibiais devem apresentar cerca de 60 a 70% da força quadricipital. Portanto nós professores devemos prescrever com certa cautela o fortalecimento do quadríceps na cadeira extensora, evitando assim fugir dessa relação. Outras possibilidades para as lesões dos isquiotibiais levam em consideração a fadiga desse grupamento muscular, postura inadequada na corrida e na marcha, discrepâncias no comprimento dos membros, diminuição da flexibilidade, desequilíbrio entre os músculos que compõem os isquiotibiais (porção medial e lateral) e como foi citado anteriormente a inervação diferenciada da cabeça curta do bíceps femoral.
As lesões desses músculos ocorrem geralmente durante os piques e exercícios de alta velocidade, como também em esportes que exigem paradas bruscas (desaceleração) ou uma combinação de aceleração/desaceleração. As distensões do semitendinoso e semimembranoso têm maior possibilidade de ocorrer durante a desaceleração da corrida, enquanto as distensões do bíceps femoral ocorrem com maior freqüência na fase de aceleração ou impulsão.

A porção curta do bíceps femoral é a mais frequentemente lesada pelos motivos anteriormente citados, alguns autores admitem que se contrai simultaneamente com o quadríceps como resultado de uma “falha” no sistema neuromuscular, contribuindo assim para a alta taxa de lesão nesse músculo.

No tratamento das distensões musculares, os objetivos consistem em reduzir a dor, restaurar a função muscular e evitar a possibilidade de recidiva. O tratamento inicial consiste na aplicação de gelo (crioterapia), compressão, elevação, repouso e o uso de antiinflamatórios prescritos pelo médico. Os exercícios de alongamento precedem o fortalecimento muscular, a menos que o comprimento do músculo esteja normal. Nas distensões leve a moderada o alongamento poderá ter início a partir do segundo dia conforme tolerância do atleta. Com relação ao fortalecimento muscular, a dor e a tolerância são indicativos que deverão ser levados em conta tanto no momento de iniciar o tratamento quanto na progressão do mesmo. Progressão essa que já foi descrita na coluna anterior (lesões musculares parte l).

O atleta poderá voltar à prática esportiva sem restrições quando alguns critérios tiverem sido atendidos: flexibilidade adequada dos isquiotibiais, força, potencia e resistência muscular compatível com o membro contralateral, força muscular dos isquiotibiais em torno de 60 a 70% da força do quadríceps e ausência de sintomas no desenvolvimento de atividades funcionais. 










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Lesões Musculares Parte III (o quadríceps)

O grupo do músculo quadríceps consiste em quatro músculos no aspecto anterolateral do fêmur: O reto femoral, o vasto medial, o vasto lateral e o vasto intermediário. O reto femoral é o único músculo bi articular do quadríceps, funcionando na extensão do joelho e flexão do quadril.


Figura 1: Músculos da face anterior da coxa.

As lesões do quadríceps são uma ocorrência comum nos esportes. O quadríceps está sujeito tanto a distensões quanto a contusões, com essa última apresentando maior incidência.

As contusões ocorrem como resultado de um trauma direto. O músculo é pressionado contra o osso subjacente, resultando em laceração muscular e sangramento intenso no músculo. O “Tostão” no futebol é o melhor exemplo deste tipo de lesão.

As distensões são causadas por alongamento excessivo ou sobrecarga excêntrica. Normalmente ocorrem na junção músculo tendínea. Tais rupturas são resultado da força intrínseca gerada no músculo do atleta, geralmente na mudança entre a contração excêntrica e concêntrica.

Uma distensão do quadríceps pode ser muito incapacitante, especialmente quando o reto femoral estiver envolvido. Os músculos do quadríceps são muito semelhantes aos ísquiotibiais, pois produzem enorme quantidade de força e contraem-se de forma rápida.

Os principais sintomas são: Dor aguda, edema em uma área especifica e perda da flexão do joelho. Caso o reto femoral esteja envolvido, a flexão do joelho na posição prona estará limitada e dolorosa. O comprometimento do reto femoral é mais incapacitante do que qualquer outro músculo do quadríceps. Caso não ocorra história de contato direto na área do quadríceps, a lesão deverá ser tratada como distensão muscular. O encurtamento do quadríceps, o desequilíbrio entre os músculos que compõem o mesmo e a discrepância no comprimento dos MMII, pode predispor uma pessoa à distensão quadricipital.

Na distensão do quadríceps grau l o atleta pode queixar-se de tensão na parte frontal da coxa, com ou sem presença de edema e pequeno desconforto a palpação. Se o reto femoral estiver envolvido, a extensão resistida do joelho poderá produzir pequeno desconforto.

O atleta com distensão do quadríceps grau ll pode apresentar ciclo de marcha anormal, podendo ocorrer rotação externa do quadril, a fim de usar os adutores para puxar a perna durante a marcha e evitar a extensão do quadril durante a fase de oscilação. Isso ocorre especialmente quando o reto femoral está envolvido. O edema já pode ser observado, a palpação produzirá dor e alterações no músculo poderão estar aparentes. A extensão resistida poderá reproduzir dor. Com o atleta em prono, a flexão ativa da articulação do joelho poderá em alguns casos estar limitada a 45 graus de amplitude. Nas distensões quadricipitais, qualquer diminuição na amplitude de movimento de flexão do joelho, indica que a lesão deve ser classificada como grau ll ou lll.

Na distensão do quadríceps grau lll o atleta pode ser incapaz de deambular sem a ajuda de muletas, sentirá dor severa e apresentará uma alteração visível no quadríceps. A palpação não é tolerada e o edema aparece quase que imediatamente após a lesão. O atleta pode não ser capaz de estender a perna ativamente ou contra resistência. A contração isométrica é dolorosa e pode produzir uma saliência ou alteração no quadríceps, especialmente no reto femoral. A flexão ativa do joelho com o atleta em prono estará gravemente limitada e poderá não ser tolerada.

Reabilitação

Um atleta com distensão do quadríceps grau l deve iniciar a aplicação de gelo e a compressão imediatamente após a lesão. Os exercícios isométricos, a movimentação ativa, como também os exercícios de resistência progressiva devem ser realizados nas primeiras 24-48 horas. Os exercícios de alongamento também podem ser iniciados, porém não devem produzir dor, caso contrário podem aumentar a área lesada e provocar sangramento.

Na distensão do quadríceps grau ll a aplicação de gelo deve ser iniciada imediatamente, a compressão deverá ser mantida por 24 horas durante todo o período da reabilitação (evitar sangramento) e o uso de muletas é indicado por um período de 3 a 5 dias objetivando proteger a área lesada. As modalidades de estimulação elétrica podem ser utilizadas para reduzir a dor, o edema e a inflamação.

Caso esteja sem dor o atleta poderá iniciar os exercícios isométricos para quadríceps e exercícios ativos para ganho de amplitude de movimento a partir do segundo dia. Posteriormente os exercícios de fortalecimento do quadríceps (progressivos, contra resistência) estão indicados desde que não provoquem dor. A hidroterapia e o ciclo ergômetro também podem ser realizados a partir do sétimo dia, procurando inicialmente evitar movimentos vigorosos. Os alongamentos passivos indolores devem ser evitados antes do sétimo dia. Todos os exercícios devem ser executados sem a presença de dor.

O atleta com distensão de quadríceps grau lll deve usar muletas durante 7 a 14 dias. A compressão por 24 horas, gelo e as modalidades de estimulação elétrica devem ser utilizadas imediatamente. Certas modalidades, como massagem, calor e alongamentos forçados do músculo durante a fase aguda estão contra-indicados. Quando o atleta estiver sem dor podem ser utilizados os exercícios isométricos para o quadríceps.

O gelo juntamente com os exercícios ativos são bastante úteis na recuperação da ADM. A flexão do quadril com o joelho estendido e sem peso pode ser realizada sem a presença de dor. O peso pode ser acrescentado a partir do décimo dia. A hidroterapia e o ciclo ergômetro podem ser acrescentados ao programa de reabilitação. A altura do selim deve ser regulada de acordo com a ADM do atleta. Os exercícios de resistência progressiva podem ser realizados a partir da terceira semana. O atleta deve apresentar amplitude ativa total de movimento até a quarta semana. Somente após o restabelecimento da ADM total que os exercícios de alongamento para o quadríceps devem ser acrescentados.


Figura 2: Eletroestimulção do quadríceps associado ao trabalho resistido.

A reabilitação das contusões do quadríceps pode seguir o mesmo modelo da reabilitação das distensões quadricipitais, porém uma maior atenção deverá ser dada principalmente nas fases iniciais,quando a lesão deverá ser “protegida” evitando assim o aumento do sangramento, do edema e dificuldades no processo de cicatrização da mesma.


Figura 3: Fortalecimento no Rack machine.
A lesão muscular é considerada totalmente recuperada quando não há mais dor ou sensibilidade a contração completa do músculo. Uma vez restabelecida a função muscular, a flexibilidade total das articulações adjacentes e um padrão normal de movimentos, o programa de treinamento integral poderá ser retomado.
 

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