O
futebol envolve exercícios intermitentes e a intensidade do esforço
físico depende do posicionamento do atleta, qualidade do adversário e
importância do jogo. Pretende-se rever as principais alterações
metabólicas desses atletas com prováveis implicações nutricionais
e/ou na conduta dietética para melhor desempenho. O gasto energético
de um jogador de futebol é estimado em 1.360kcal/jogo. As atividades
do segundo tempo são 5% menores que as do primeiro, com variações
diretamente relacionadas com os níveis do glicogênio muscular
pré-jogo.
Nutritional aspects of competitive soccer
Isabela GuerraI; Eliane de Abreu SoaresII; Roberto Carlos BuriniIII
INutricionista; Doutoranda do Curso de PG Interunidades de Nutrição Humana Aplicada, USP, São Paulo
IIProfessora Adjunta dos Institutos de Nutrição da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
IIIProfessor Titular do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina (Unesp); Coordenador do Centro de Metabolismo e Nutrição (CeMeNutri), Botucatu, SP
IIProfessora Adjunta dos Institutos de Nutrição da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
IIIProfessor Titular do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina (Unesp); Coordenador do Centro de Metabolismo e Nutrição (CeMeNutri), Botucatu, SP
RESUMO
O
futebol envolve exercícios intermitentes e a intensidade do esforço
físico depende do posicionamento do atleta, qualidade do adversário e
importância do jogo. Pretende-se rever as principais alterações
metabólicas desses atletas com prováveis implicações nutricionais
e/ou na conduta dietética para melhor desempenho. O gasto energético
de um jogador de futebol é estimado em 1.360kcal/jogo. As atividades
do segundo tempo são 5% menores que as do primeiro, com variações
diretamente relacionadas com os níveis do glicogênio muscular
pré-jogo. Em jogadores de elite o consumo das reservas de glicogênio
muscular, durante o jogo, varia de 20% a 90%, dependendo de fatores
como: condicionamento físico, intensidade do esforço, temperatura
ambiente e composição dietética pré-competição. Desidratação e
hipertermia são aceleradores do consumo de glicogênio e, assim, da
fadiga muscular, perceptível, particularmente, no segundo tempo, quando
o atleta evita sprints, caminha mais do que corre e reduz a
distância percorrida. A hidratação e suprimento glicídico constituem,
então, os principais ergogênicos nutricionais para os futebolistas.
Por ser uma modalidade esportiva sem intervalos regulares, o futebol
não permite a reposição hidroeletrolítica periódica. Por isso,
recomenda-se que o atleta inicie o jogo bem hidratado, ingerindo meia
hora antes 500ml de líquido contendo polímeros de glicose (5%-8%). O
aumento do desempenho físico é verificado com a ingestão de dietas
contendo 312g de carboidrato quatro horas antes do jogo e, para a
normalização do glicogênio muscular, após o jogo, recomenda-se oferta
de dieta contendo 7-10g/kg/24h com maior consumo nas duas primeiras
horas. Os futebolistas encontram-se sob risco constante de deficiências
latentes de micronutrientes pelo desgaste muscular, perdas
intestinais, sudorese intensa, viagens constantes, mudanças de fuso
horário e cardápios. Para o caso específico dos futebolistas, os
maiores desbalanceamentos parecem ocorrer pelo elevado consumo de
proteínas, gorduras e álcool e baixa ingestão de carboidratos.
Palavras-chave: Futebol. Metabolismo. Energia. Nutrientes.
ABSTRACT
Soccer
playing involves intermittent exercises the physical intensities of
which depend upon the player line up in the field, the importance of
the game, and competitor excellence. This review aims at describing
the major metabolic impacts on these physical efforts and their
nutritional implications for performance purposes. Soccer players
usually spend approximately 1360 kcal each game, with a 5% decrease
in the second half of the game. Glycogen reserves modulate strength
and length of movements. Elite players deplete from 20% to 90% of
their glycogen level during a match according to their physical
conditioning, exercise intensity, environmental temperature, and
pre-competition dietary intake. Body dehydration and hyperthermia
accelerate glycogen depletion and fatigue, a process that can be
observed in particular on the second half-time, when players avoid
sprints, walk more than run and reduce the accomplished distance.
Hence, water and carbohydrate supplies are the major nutritional
ergogenic elements for soccer players. Since soccer games have only
one interval, athletes are not provided with cyclic water reposition.
So it is advisable that athletes are given 500 ml of liquid
containing either glucose or polymers at 5% to 8% half an hour before
the beginning of the game. Better performances are observed with
intake of 312 g carbohydrate diets 4 hours before the game and with
replenishment of glycogen stores by providing athletes with 7-10 g
carbohydrate/kg/24h after the game, mostly in the first two hours
after the game is over. Another nutritional risk regards athletes'
micronutrient status, which results from muscle wearing, intestinal
losses, intense sweating, frequent trips, and changing menu. But in
the case of soccer players, the unbalanced diet seems to be related to a
higher intake of protein and fat, as well as alcohol, and a lower
intake of carbohydrates.
Key words: Soccer. Metabolism. Energy. Nutrients.
INTRODUÇÃO
O futebol é uma modalidade de esporte com exercícios intermitentes de intensidade variável1,2.
Aproximadamente, 88% de uma partida de futebol envolvem atividades
aeróbias e, os 12% restantes, atividades anaeróbias de alta
intensidade3.
Durante
um jogo de futebol, os jogadores percorrem aproximadamente 11
quilômetros, sendo que a média da distância coberta no primeiro tempo
é 5% maior que a do segundo tempo1,4,5. Nessa distância
temos atividades que perfazem 3,2 quilômetros de caminhadas, 1,8
quilômetro de corridas e 1,0 quilômetro em sprint, entre outras6.
De 8 a 12% da distância total coberta por jogo são realizados em velocidade de sprint6, as corridas de baixa intensidade representam 35% e as de alta intensidade, de 8,1 a 18% do tempo total do jogo1,4,7.
A distância percorrida pelos jogadores de meio-campo (10,2 a 11km) é
significativamente maior que a dos zagueiros (9,1 a 9,6km) e
atacantes (10,5km), sendo estes últimos os jogadores que mais
realizam sprints1,4,8,9.
Em
geral, a distância percorrida pelo jogador depende da qualidade do
oponente, de considerações táticas e da importância do jogo1,4,5,10.
A
nutrição e o treinamento são alguns aspectos fundamentais para que o
jogador de futebol tenha bom desempenho. A demanda energética dos
treinamentos e competições requer que os jogadores consumam uma dieta
balanceada, particularmente rica em carboidratos11.
Assim
sendo, este artigo tem como objetivo analisar a participação de
macro e micronutrientes e alguns outros aspectos, como glicogênio
muscular e hidratação, em jogadores de futebol a partir de dados da
literatura.
GASTO ENERGÉTICO E PAPEL DO GLICOGÊNIO MUSCULAR
Os
jogadores de futebol são atletas que treinam em intensidade moderada
a alta, tendo necessidades energéticas diárias em torno de 3.150 a
4.300kcal12.
A quantidade e a qualidade do treinamento são fatores que influenciam o gasto energético do jogador12.
Um futebolista de 75kg gasta, durante o treinamento, 1.360kcal12 e tem captação máxima de oxigênio de 60 a 67ml/kg de peso/min1,12,
sendo este valor 10ml/kg de peso/min acima do encontrado em
indivíduos sedentários e 10ml/kg de peso/min abaixo do verificado nos
atletas de resistência3. Freqüentemente, o valor de
captação de oxigênio do jogador de meio-campo é o maior do time. Os
laterais têm esse valor maior que o dos zagueiros4,13,14.
O
glicogênio muscular desempenha papel-chave na produção de energia
durante o exercício e a fadiga está freqüentemente associada à
depleção de seus estoques, sendo a exaustão evitada na presença de
concentrações adequadas do mesmo12,15-20.
Os
jogadores de futebol podem iniciar o jogo com baixos níveis de
glicogênio muscular, devido, entre outros fatores, aos hábitos
alimentares e ao número excessivo de jogos e treinos21,22,
sendo que a sua depleção depende de fatores como intensidade do
exercício, condicionamento físico, modalidade do exercício,
temperatura ambiente e dieta pré-exercício18.
Durante
o jogo de futebol, existe relação direta entre as concentrações
iniciais do glicogênio muscular, as distâncias percorridas e os
níveis de esforços dos jogadores durante a segunda metade da partida14,
podendo influenciar o desempenho no campo, pois, na sua ausência, o
trabalho muscular é mantido pela energia fornecida pela gordura, em
processo totalmente aeróbio e, portanto, em eficiência (rapidez)
geralmente 50% abaixo da normal21.
Usualmente, há depleção de 20 a 90% do glicogênio muscular durante competições de alto nível6.
O exercício vigoroso reduz as reservas musculares de glicogênio em
90 minutos e, com atividades intermitentes de alta intensidade, 72%
do glicogênio são usados em 9,5 minutos. Durante a simulação de uma
partida de futebol, com jogadores de elite, foi observada depleção de
50% ao final do jogo3.
Durante
a primeira metade do jogo o nível de glicogênio muscular não
constitui fator limitante do desempenho. Na segunda metade, se esse
nível estiver diminuído, desde o início do jogo, haverá
comprometimento do desempenho físico21.
Portanto,
os atletas que iniciam o jogo com concentrações baixas de glicogênio
muscular percorrem distâncias menores, em velocidade menor, andam
mais e realizam menos sprints que aqueles jogadores com concentrações normais no início da partida2,3,15,23,24.
De fato, esses jogadores com níveis iniciais baixos de glicogênio
muscular apresentam, particularmente na segunda metade do jogo, menor
velocidade e percorrem distância menor que os demais1,3,22.
PERFIL DIETÉTICO
Importância do carboidrato no desempenho
A
ingestão de 312g de carboidratos, nas quatro horas precedentes ao
início do exercício, resulta em aumento de 15% no desempenho físico17.
A ingestão de carboidratos dez minutos antes do início de um jogo
diminui a utilização de glicogênio muscular em 39%, aumenta a
velocidade de corrida e a distância percorrida na segunda metade da
partida em 30%. Os jogadores que ingerem bebidas contendo
carboidratos mantêm intensidade maior de exercício durante o jogo
comparados com os que consomem somente água2,25.
O
carboidrato deve ser ingerido antes que ocorra a fadiga muscular,
para assegurar que esteja disponível quando os níveis de glicogênio
muscular estiverem baixos. O consumo de 600 a 1.000ml de uma solução
com concentração de 6 a 10% de carboidrato seria o mais indicado
nessa situação17. Jogadores que ingerem bebidas contendo carboidratos utilizam 31% menos glicogênio muscular que o grupo placebo22,24,26.
Leatt e Jacobs (1989)24
verificaram que jogadores que tomaram bebida contendo glicose 10
minutos antes do jogo percorreram distância 25% maior que os que
ingeriram placebo. Assim, a ingestão de carboidratos não só antes,
mas também durante o jogo, resulta em melhora no desempenho físico
nos exercícios de longa duração23.
A ingestão de carboidratos é também importante para a recuperação após o exercício12,16.
O termo recuperação envolve processos nutricionais, como a
restauração dos estoques hepáticos e musculares de glicogênio,
reposição de fluidos e eletrólitos, regeneração e reparo de lesões
causadas pelo exercício e adaptação após o estresse catabólico. Foi
sugerida uma média de ressíntese de glicogênio muscular de 5 a
6mmol.kg.peso.h-1 no período de 20 a 24 horas de recuperação como necessária para normalizar os estoques de glicogênio após sua depleção16.
A
síntese de glicogênio muscular tem precedência na restauração do
glicogênio hepático. A síntese, no músculo, ocorre mesmo sem a
ingestão de carboidrato, após o exercício, em taxas baixas, a partir
dos substratos fornecidos pela neoglicogênese16. Porém, a
síntese completa depende da ingestão adequada de carboidratos, de
preferência de índice glicêmico de moderado a alto, que demonstraram
ser mais eficazes na taxa de ressíntese do que alimentos com índice
glicêmico baixo17,19,27. A ótima taxa de reposição de
glicogênio ocorre com o consumo de carboidratos de 0,7 a 1g/kg de peso
corporal a cada duas horas, nos primeiros estágios de recuperação,
perfazendo total de 7 a 10g/kg de peso corporal em 24 horas16.
Assim, o total de carboidratos na dieta é fator importante para a
recuperação do glicogênio hepático e muscular depois de treinos e
competições12,17,18,28,29.
A
reposição de glicogênio ocorre mais rápido quando a ingestão de
carboidrato se dá imediatamente após o término do exercício. Se a
ingestão ocorre duas horas depois, a taxa de reposição não é tão
rápida, devido ao fato de os níveis de glicose sanguínea e insulina
não estarem elevados16,27. Uma dieta rica em carboidratos
aumenta as concentrações de glicogênio muscular, resultando em
melhora do desempenho nos exercícios prolongados e contínuos, como o
futebol13,25,30,31. Portanto, é necessária a ingestão de
carboidratos representando 60 a 70% do valor energético total diário,
ou seja, no mínimo 8g de carboidratos/kg de peso corporal/dia6,12,18,22,29,32,33.
Reposição eletrolítico-glicídica
A hidratação é um fator importante que deve ser considerado antes, durante e depois do exercício34.
A hidratação antes do início do exercício e durante este parece
melhorar o desempenho; líquidos que contêm carboidrato são mais
eficientes em aumentá-lo durante a atividade35.
Quando
a temperatura e a umidade estão altas, a capacidade de desempenhar
exercícios prolongados é reduzida. Nessa situação, problemas com a
termorregulação e a desidratação mais que a depleção dos estoques
de energia podem causar a fadiga36.
Devido
ao fato de o futebol ser esporte com duração de 90 minutos,
geralmente ocorrem problemas associados à termorregulação e ao
balanço hídrico37. Sabe-se que o treinamento físico associado ao estresse térmico aumenta o fluxo sanguíneo cutâneo e a produção de suor38.
Há
grande variedade individual de perda hídrica devido a diferenças na
composição corporal, taxa metabólica, aclimatação do atleta,
temperatura e umidade ambientes, variedade e intensidade de
exercícios realizados durante o jogo, diferenças no consumo máximo de
oxigênio e diferenças nas funções desempenhadas22,37,39-41.
Os jogadores de futebol podem perder até três litros ou mais de suor durante um jogo em dia quente42.
O estado crônico de desidratação e o estresse térmico durante um
jogo de futebol podem limitar o desempenho e ser prejudiciais ao
jogador, sendo comum observar temperaturas corporais acima de 39ºC após
partidas de futebol32,43.
O desempenho durante jogos ou treinos pode diminuir 30%, com a perda de 5 a 6% do peso corporal37,39,44.
Caso haja perda de mais de 5% do peso corporal, a recuperação das
reservas hídricas pode não se completar entre 48 e 72 horas37. A redução de peso pós-exercício pode persistir mesmo após 24 horas de ingestão livre de alimentos e água44.
A
oferta de líquidos é mais importante que a disponibilidade de
carboidrato no desempenho físico em exercícios de resistência no
calor. Já em condições ambientais frias, a ingestão de uma solução de
carboidrato a 7% é mais eficiente em melhorar o desempenho, porque
mantém a concentração de glicose sanguínea constante, conservando
também o volume plasmático adequado45.
Além
de o futebol ser um esporte em que não há intervalos regulares que
permitam o consumo de líquidos durante o decorrer do jogo15,32,
sua ingestão durante o exercício é também limitada pelo tempo de
esvaziamento gástrico, já diminuído devido à alta intensidade em que o
exercício é realizado37,42.
O
objetivo primário da reposição de líquidos, antes e durante o
exercício, é prover substrato como fonte de energia e anular os
efeitos negativos da desidratação22,43,46,47, já que se
exercitar em estado de pouca hidratação leva ao aumento rápido da
temperatura corporal e ao começo de agressões térmicas. Assim, a
ingestão adequada de fluidos antes, durante e depois de jogos e
treinos ajudaria a evitar esses sintomas37.
Portanto,
iniciar o jogo bem hidratado ingerindo 500ml de líquido com
concentrações de polímeros de glicose de 5 a 8% meia hora antes do
início do jogo6,22,38,40,49 é conduta amenizadora dos
obstáculos encontrados no mundo do futebol resultantes da
desidratação. Essa concentração de carboidrato na bebida é
importante, visto que há ótimo esvaziamento gástrico e absorção
intestinal adequada45.
Além
disso, durante a partida os jogadores devem consumir líquidos
constantemente, em pequenas quantidades e em intervalos regulares,
para não interferir no esvaziamento gástrico e, também, repor toda a
água perdida através do suor. Os líquidos a serem oferecidos devem
estar entre uma temperatura de 15 e 22º e ter sabor agradável, para
assim promover sua ingestão voluntária48.
A
bebida hidroeletrolítica adequada deve ter as seguintes
características: permitir que os fluidos cheguem rapidamente aos
tecidos, fornecer carboidratos durante o exercício, fornecer baixos
níveis de eletrólitos, ser palatável e refrescante e não causar
distúrbios gastrointestinais28. Essas bebidas após o
término do jogo ou treinamento ajudam não só na hidratação, mas
também na recuperação do glicogênio muscular40.
Proteínas e aminoácidos
As
necessidades protéicas de um atleta são maiores do que as de um
indivíduo sedentário por causa do reparo de lesões induzidas pelo
exercício nas fibras musculares, uso de pequena quantidade de
proteína como fonte de energia durante a atividade e o ganho de massa
magra27.
Com
base em medidas laboratoriais, sabe-se que a recomendação protéica
aumenta até 100% para pessoas fisicamente ativas e esta recomendação é
influenciada por fatores como ingestão energética, disponibilidade
de carboidrato, intensidade, duração e tipo de exercício realizado,
qualidade da proteína ingerida, sexo e idade49.
Sabe-se
que os aminoácidos hepáticos podem ser oxidados com produção de
energia durante o exercício e que nos treinamentos de resistência há
aumento dessa oxidação, principalmente a dos aminoácidos de cadeia
ramificada50.
A
suplementação de aminoácidos de cadeia ramificada não tem efeito
sobre a fadiga durante exercícios prolongados e há poucos estudos que
recomendam a ingestão de glutamina para melhorar a função imune51,
embora exista uma corrente que acredita que a suplementação retarde o
aparecimento da fadiga e também sirva como fonte de substrato
energético durante o exercício27.
Essa
suplementação pode ser útil para populações específicas, como
indivíduos em fase de crescimento, vegetarianos, nos com doenças que
causam fraqueza muscular e em idosos. Porém, para a população em
geral, que consome uma variedade de alimentos fontes de proteína, o
aumento da necessidade protéica induzida pelo exercício pode ser
atendido pela dieta habitual51.
A proteína contribui para o pool
energético durante o repouso e o exercício, sendo que durante a
atividade sua oxidação contribui com cerca de 5 a 10% do fornecimento
total de energia15,27. Assim, os aminoácidos servem como
fonte auxiliar de combustível durante exercícios intensos e de longa
duração e, após sua oxidação, são irreversivelmente perdidos. Caso
não sejam repostos, via alimentação, haverá comprometimento do
processo normal de síntese protéica. Isso pode levar à perda da força
muscular, diminuindo, então, o desempenho durante uma partida de
futebol50.
A ingestão de 1,4 a 1,7g de proteínas/kg de peso corporal/dia para jogadores de futebol é considerada a mais adequada12,42,50.
O fornecimento de proteína excedendo esse valor resulta na sua maior
oxidação ou em estocagem do esqueleto carbônico dos aminoácidos
na forma de gordura, em ambos os casos aumentando a formação e
excreção de uréia. A oxidação de aminoácidos aumenta o risco de
desidratação devido à necessidade da diluição dos seus metabólitos
excretados via urina. Sabe-se que cada grama de uréia excretada leva
consigo cerca de 100ml de água30.
Gorduras e consumo alimentar de jogadores de futebol
Juntamente com o carboidrato, a gordura é a principal fonte de energia durante o exercício18.
A
maior parte do substrato lipídico é proveniente dos ácidos graxos
livres mobilizados do tecido adiposo. Sua mobilização é mais
acentuada durante os exercícios prolongados de intensidade moderada23.
Deve-se
ter especial atenção com o total de lipídios consumidos, que deve
ser igual ou menor que 30% do valor energético total30,52.
O
consumo elevado de gordura na dieta é um problema muito comum entre
atletas, tornando mais difícil a ingestão das quantidades
preconizadas de carboidrato. Entretanto, redução muito intensa no
consumo de lipídios não é aconselhável, já que estes participam não
só do metabolismo da produção de energia, mas também do transporte de
vitaminas lipossolúveis e são componentes essenciais das membranas
celulares27,53.
Muitos
atletas consomem uma dieta que provê menos de 50% de energia sob a
forma de carboidrato e mais de 15% sob a forma de proteínas54.
Os
registros alimentares estimam que o consumo alimentar de jogadores
varia de 5.376 a 8.894kcal/dia. O método de pesagem indicou um
consumo de 4.620 a 5.376kcal/dia para jogadores escoceses. Discrepâncias
entre a necessidade e a ingestão podem ter aumentado porque as
medidas foram feitas no treinamento, em que o consumo habitual dos
jogadores não é representativo42 (quadro 1).
Vitaminas, minerais e suplementação
Os
micronutrientes desempenham um papel importante na produção de
energia, síntese de hemoglobina, manutenção da massa óssea, função
imune e protegem os tecidos dos danos oxidativos27.
Os
atletas estão sob particular risco de ingestão inadequada de
vitaminas e minerais pelo fato de se exercitarem por muito tempo sob
alta intensidade e, também, por viajarem bastante e dependerem de
cardápios de restaurantes locais59.
Há evidências de que pessoas ativas fisicamente perdem minerais através do suor excessivo, das fezes e da urina61,62.
Entretanto, segundo alguns autores, os atletas consomem geralmente
dietas balanceadas com elevada ingestão de carboidratos, moderados
níveis de proteína e baixa quantidade de lipídios, e grande variedade
de alimentos, sendo, portanto, bastante improvável que as recomendações
do NRC/RDA (1989)52 não sejam atingidas30,40.
Algumas
vitaminas e minerais desempenham papel importante no metabolismo
energético; por isso, a inadequação de um ou mais micronutrientes
pode comprometer a capacidade aeróbia e anaeróbia61.
Atletas
submetidos a intenso programa de treinamento e competições têm
possivelmente alguma dificuldade em manter níveis adequados de
vitaminas55. O exercício pode causar a redistribuição dos minerais entre os compartimentos corporais60,62.
A
suplementação, tanto de vitaminas quanto de minerais, pode ser útil
quando há necessidade de compensar dietas deficitárias devido ao
estilo de vida, assegurar demandas de certos nutrientes por causa dos
exercícios extremos, corrigir alguma inadequação nutricional ou para
atender às recomendações. Geralmente, a suplementação no futebol
está associada à dieta inadequada e à ingestão elevada de álcool40.
A
suplementação vitamínica e de minerais melhora as concentrações
bioquímicas desses micronutrientes, mas não altera a capacidade de
captação de oxigênio ou a concentração de lactato no sangue durante
exercícios aeróbios com intensidade elevada61,62.
É
importante destacar que a suplementação, persistente ou excessiva,
tanto de vitaminas como de minerais, pode trazer, como resultado,
desbalanço nutricional63.
Pode-se
dizer que a suplementação de vitaminas e minerais, em altas doses,
em indivíduos com valores bioquímicos normais desses nutrientes e que
consomem dieta adequada e balanceada, não melhora o desempenho
físico63.
CONCLUSÃO
A
educação nutricional é de fundamental importância, principalmente
para jogadores de futebol, especialmente quando em períodos de
treinamento intenso, que consomem quantidades elevadas de gordura e
pequenas de carboidrato11,61.
Portanto,
a dieta de um jogador de futebol deve atender aos gastos
energéticos, fornecer um balanço adequado de proteínas, lipídios e
carboidratos e atingir as recomendações de micronutrientes42.
AGRADECIMENTO
À Capes, pela concessão da bolsa de estudo.
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FONTE: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1517-86922001000600003&script=sci_arttext
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