quinta-feira, 3 de novembro de 2011

FADIGA MENTAL













POR: CARLOS CARVALHAL

É indescritível o cansaço que um treinador sente no final de um jogo! Mas como explicá-lo? Não andou muito, não correu, não teve uma relevante exigência física… estão certamente a pensar como eu… fadiga mental!

É muito importante tomar consciência que tal como a fadiga física (sistema nervoso periférico), também existe a mental (sistema nervoso central) e ambas se fazem sentir no nosso organismo durante, e principalmente depois de um jogo.

Não são raras as vezes que uma equipa vai disputar competições da UEFA e não consegue resultados no campeonato! Recordo o Vitória de Guimarães, o Beira-Mar, o Estrela da Amadora, que desceram de divisão em épocas nas quais disputaram provas da UEFA.
Por outro lado, não é de agora que conhecemos as dificuldades que as equipas (principalmente aquelas em que os seus jogadores não estão habituados a disputar jogos da UEFA) têm ao disputar jogos internos a seguir a jogos das competições europeias. Este é um problema à escala europeia.
Apenas cansaço físico? A maioria das vezes o intervalo temporal entre jogos cumpre os limites “fisiológicos “ … Vejo com atenção alguns jogos, vivencio esta realidade, e constato que muitas vezes as equipas correm até demais, lutam, são intensas, no entanto falham muitos passes e por vezes perdem organização… como explicar tudo isto?
Vejamos o que se passa nas competições europeias ou competições disputadas a meio da semana, principalmente com equipas que não estão habituadas a este processo. A focalização mediática é grande, diferente da dos jogos do campeonato, começa-se a “jogar” antes do jogo, joga-se o jogo e continua a “jogar-se” passados uns dias. “Jogo” este, obviamente inclui o que é falado e escrito na imprensa, o que suscita o debate das pessoas! O sistema geral dos jogadores está alerta, focaliza-se nestes jogos de uma forma exacerbada. O sistema nervoso periférico (vulgo sistema muscular) atinge muitas vezes o limite durante o jogo, enquanto que o sistema nervoso central começa a “trabalhar” muito antes destes jogos, atinge o limite durante o mesmo, e ainda “trabalha” depois. Podemos dizer que pelo impacto mediático e importância destes jogos, os jogadores chegam ao seu limite.
O limite mínimo de recuperação aceite entre dois jogos são as 72horas! No entanto, existe um tipo de fadiga muito difícil de mensurar, a fadiga central, que demora muito mais tempo a recuperar do que a periférica! Não sendo por vezes contemplada na percepção do cansaço, leva a que os treinadores cometam alguns erros de planeamento. Isto porque quem vê o jogo pelo lado do “físico” nunca vai entender que a recuperação é também parte integrante e fundamental do planeamento! Treinas organização, habituas-te a estar concentrado, recuperas dessa mesma concentração… treino, concentração e a recuperação devem andar de mãos dadas todos os dias...
Vivi a realidade de uma densidade muito grande de jogos consecutivos, em vários clubes, mas não tínhamos tido uma sucessão de jogos tão grande como em 2008 no Vitória de Setúbal. Apontada inicialmente como candidata numero 1 a descer de divisão, com um plantel muitíssimo curto e com a utilização permanente de um núcleo duro de 9 jogadores, tivemos a capacidade de andar a Top em todas as competições em que estávamos inseridos: Vencedores da Taça da Liga; meias-finais da Taça de Portugal e conseguimos atingir as provas da UEFA! No entanto a equipa terminou a época nitidamente cansada, e aqui levanta-se a questão da importância de ter um plantel qualitativamente equilibrado para que possa existir rotatividade… (um dia destes falaremos sobre este tema).
Vejo jogos, e oiço várias vezes, “a equipa estava cansada, não tinha pernas para o adversário”… muitas vezes não é isso que se passa! Vejo jogadores e equipas a correr muito e mal, jogadores a correr muito e a falhar passes de forma infantil! Equipas a terem dificuldade em manter a sua organização, porque os jogadores têm dificuldades em se concentrar. No fundo os jogadores estão cansados de estar concentrados e o seu sistema nervoso central não responde às exigências do momento.
Mas então os jogadores por vezes não ficam fisicamente cansados? Por vezes sim, mas nesse caso estamos a falar de coisas diferentes… é que os responsáveis do treino de tanto pensarem no “físico”, assumindo-o como fundamental, têm uma imensa necessidade de treinar, ao ponto dos jogadores estarem já cansados antes do jogo! Jogam o jogo mais importante da semana nos limites e podem ter rendimento, mas depois… não sei se pagarão o esforço nessa semana, se na outra ou passados um ou dois meses, o que sei é que os “picos de forma” terão um reverso doloroso!
Compara-se muito os jogadores que disputam o campeonato Inglês, quase sempre a meio da semana e aos fins-de-semana, com os jogadores que disputam o campeonato Português, uma vez que os primeiros apresentam, na generalidade, elevados níveis de intensidade nos jogos! Analisando a intensidade, concordo em absoluto! O campeonato Inglês tem um nível de intensidade mais elevado do que o nosso, mas estamos meramente a falar de uma questão de adaptação, de hábito a uma forma intensa de jogar. A grande diferença é que em Inglaterra, jogam a meio da semana TODAS as equipas, logo os níveis de fadiga são idênticos para TODOS! Outra coisa, é uma equipa jogar sucessivamente três jogos por semana e defrontar outra que prepara esse jogo durante toda uma semana… acreditem, faz muita diferença!
É difícil ganhar uma competição, mas muito mais difícil é andar a top em várias ao mesmo tempo nestas condições…


FONTE: http://www.coachcarvalhal.com

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