quinta-feira, 3 de novembro de 2011

CRISTIANO RONALDO, MOURINHO E AS MÁQUINAS...











POR: CARLOS CARVALHAL


Imaginem uma máquina (chamemos Máquina de Espectáculo), constituída por 11 peças mas de tamanhos diferentes! Nesta, existem peças que para que o rendimento aumente dá-se especial importância a uma ou outra, ao ponto de muitas vezes parecer que a peça parece a máquina, e que a máquina não funcionará sem ela. Embora exista interdependência, o Todo é a soma da qualidade individual dos seus constituintes, assumindo-se umas como importantíssimas para não dizer fundamentais no rendimento da máquina.


Ao lado outra máquina (Máquina ganhadora), constituída também por 11 peças de tamanho muito idêntico. Todas são importantes, embora com funções diferentes para o bom e regular desempenho! Umas são mais rápidas, outras mais largas e fortes, outras ainda marcam a diferença porque são realmente muito fiáveis e eficazes! No entanto, estas peças vivem em interdependência, assumindo-se o TODO como muito mais do que a soma dos seus constituintes.
Mas o que tem isto a ver com Cristiano Ronaldo?!!
Tenho uma profunda admiração por Cristiano Ronaldo! Filho de gente humilde, sair do calor familiar para crescer e formar-se longe da sua família! Conseguiu tudo graças ao seu trabalho e talento, e acima de tudo continua com traços de humildade, trabalho, e mantendo a ligação familiar.
Precocemente saiu do Sporting para o Manchester United. Aqui começa a analogia com as máquinas...
O Manchester United é uma verdadeira máquina liderada por Alex Fergusson, claramente defensor de princípios favorecedores a uma Máquina Ganhadora: O Todo é muito mais do que a soma das partes, e simultaneamente tira o máximo rendimento individual dos jogadores respeitando o colectivo.
Lembram-se que numa primeira fase de integração Cristiano entrava na equipa, fazia um bom jogo e logo de seguida (no jogo seguinte) ficava no banco! A sua integração foi gradativa, não só no plano táctico-técnico como nos planos emocional e social! Desde cedo percebeu que no MU tinha acima de tudo de ser um jogador do colectivo, e a partir daí, colocar todas as suas qualidades ao serviço da Equipa. O MU era e continua a ser uma máquina ganhadora. A equipa ajudou Cristiano e este ajudou a equipa, nesta era uma peça de uma máquina que entre muitos títulos foi campeã de Inglaterra e ganhou a Champions League!
Cristiano Ronaldo valorizou-se e saiu para o Real Madrid. Rotulado de vedeta, cedo se criou a responsabilidade de que será um dos Galácticos mais importantes dos últimos anos da vida do clube. O grau de exigência individual sobe exponencialmente. Entra numa máquina de Espectáculo! É uma peça da máquina claramente maior do que as outras! Assume essa responsabilidade e faz uma tremenda época! Muitas vezes o melhor em campo, muitos golos e assistências, jogos de deslumbrar as plateias! Mas títulos colectivos… ZERO!
Vi muitos jogos do Real Madrid o ano passado. Equipa com muitas lacunas nas transições defensivas e ofensivas! De toque curto e extremamente dependente de Cristiano! Goleou e ganhou muitas vezes, mas quando o nível da dificuldade subia, as individualidades não chegaram, pois era necessário organização colectiva … a máquina emperrou!
Oiço muitas pessoas dizer, “para ganhar é preciso ter melhores jogadores do que os adversários!” ou “ele ganha porque tem sempre grandes jogadores…”! Concordo até um determinado limite qualitativo, no qual os melhores jogadores fazem a diferença. Agora quando se chega ao mais alto nível, ou se é acompanhado por uma organização de excelência ou até parece que se perde… por azar!
Este tipo de jogo modificou Cristiano, individualizou o seu jogo e como tem qualidade muito acima da média esteve à altura das responsabilidades. Como esteve muito acima dos outros, esta ideia de jogo massajou o seu ego, e vimos claramente um Cristiano Ronaldo diferente: mais individualista, mais a olhar para si e ter a percepção clara de que os olhos do mundo estavam todos em cima das suas prestações! Um CR que passa de um jogador do Mundo para o centro do Mundo! Culpa dele? Não me parece! Ele só correspondeu ao que lhe pediram… e bem! É este Cristiano Ronaldo que esteve no Campeonato do Mundo de 2010 na África do Sul a jogar por Portugal.
José Mourinho começa esta temporada no Real Madrid, considerado por muitos o expoente máximo da criação de Máquinas Ganhadoras em diversos Países e contextos! Cristiano Ronaldo começa a época… péssimo!
Procuro as razões e vejo jogos do Real Madrid! Um RM seguro a jogar, a ser criado de trás para a frente! No processo ofensivo naturalmente com alguma descoordenação! Mas forte nas transições defensivas e a melhorar significativamente nas ofensivas… leio os jornais nos dias seguintes: RM muito defensivo! Cristiano Ronaldo muito apagado, não é o mesmo da época passada…!
Não concordo em absoluto com a primeira ideia, mas concordo em pleno com a ultima, “não é o mesmo da época passada…” ! Não é seguramente! Deixou de ser um jogador fundamental de uma equipa de espectáculo, para fazer parte de uma equipa ganhadora…é mais Um da Equipa! Este processo de readaptação é tremendo e muito difícil. No entanto, ao observar os jogos do RM vejo coisas em CR que são elucidativas de um jogador humilde que se está a esforçar para ser uma peça do colectivo! Melhor posicionado defensivamente, mais “ligado” à equipa no processo defensivo, a responder colectivamente nos momentos de transição!
Com Mourinho está a crescer um novo Cristiano Ronaldo, tal como uma nova equipa! Uma peça mais de uma máquina ganhadora. Em que todos, embora com papeis diferenciados, são importantes para a equipa. Vamos assistir à maturação plena de um grande talento ao longo deste período que agora se iniciou. Vai melhorar como jogador e voltar a ganhar títulos. Só se é um jogador “imortal” se ganhar competições importantes, e Cristiano Ronaldo tem noção plena disso.
Já antes tinha escrito este artigo e leio os jornais hoje após mais uma vitória, agora frente ao Milan e fixo-me em duas afirmações: uma de Cristiano Ronaldo ao jornal “As”, não a falar da sua exibição individual mas sim da equipa…
“Quando jogamos contra equipas fortes, como o Milan, estamos totalmente concentrados. A Estratégia que treinamos com Mourinho funciona pouco a pouco. Nada acontece por acaso, temos que continuar a trabalhar…”
E uma outra afirmação, esta de José Mourinho ao jornal “A Marca”:
“Ao Bernabéu, referindo-se aos adeptos do Real Madrid, não lhes gosta apenas MAGIA mas também o TRABALHO…”
A grande diferença entre as duas máquinas começa na Filosofia! As premissas são fundamentais para uma equipa ganhadora: primeiro está a equipa, depois a equipa e só depois… a equipa; nenhum jogador está acima do colectivo; o aproveitamento do talento individual faz todo o sentido, desde que este beneficie o colectivo; os jogadores são todos diferentes, contribuem para o colectivo de forma diferenciada mas esse contributo visa sempre os interesses colectivos; a organização colectiva é o pilar fundamental no sucesso.
Outra grande diferença entre essas duas máquinas, é que se na máquina ganhadora falhar uma peça (sendo ela considerada muito importante) a máquina poderá perder alguma qualidade, mas vai funcionar na mesma – com a mesma identidade e princípios! Todos dependem de todos e o Todo é muito mais do que a soma das partes… Na máquina de espectáculo, se essa peça importante “gripa” ou não joga… a máquina não funciona!
Já repararam que as equipas de Mourinho, andam sempre a Top em diversas competições em simultâneo…Porque será?!



FONTE:  http://www.coachcarvalhal.com

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