quinta-feira, 19 de junho de 2014

A ESPECIFICIDADE NA APLICAÇÃO DO TREINO PARA FUTEBOLISTAS




O futebol pode ser entendido como um jogo de extrema complexidade fisiológica, com ações específicas que evidenciam uma tipologia de esforço de grande diversidade e que metabolicamente revela-se de forma variada. Que em função da natureza intermitente do seu esforço e pela ampla faixa de intensidade que o caracteriza, o futebolista deve privilegiar no seu treino aspectos distintos como força explosiva, velocidade e resistência anaeróbia.


Sargentim (2010), acredita que “o jogador de futebol não necessita da velocidade de um corredor de 100 metros, da força de um halterofilista, da flexibilidade de um bailarino, da capacidade aeróbia de um maratonista”. 

Exato! O futebolista apenas e só deverá possuir um conjunto de características que o torna eficiente na modalidade que pratica! E que características necessita? Força (chutar ou sprintar), Velocidade (sprintar) e Resistência (correr).

 

Nas ultimas décadas muito se discute e estuda-se sobre como avaliar, treinar e qualificar os treinos dos futebolistas. As análises são todas válidas, pois através das mesmas, podemos saber com precisão como que o atleta de futebol se desloca, e de que forma, com qual intensidade essa ação motora ocorre. Contudo, um detalhe é geralmente esquecido nas linhas de pesquisas e especialmente na sua aplicação prática: a especificidade dos treinos para atletas de futebol. É comum observarmos clubes estruturados, com diversos profissionais de alto nível compondo os departamentos médico, fisiológico e nutricional, aplicando treinamentos retrógrados e defasados com métodos não específicos para o movimento do futebolista em campo, tais como corrida longa contínua ou intervalada, treinos em caixas de areia ou na praia, e exercícios de musculação com aparelhos, em especial em cadeia cinética aberta. De nada adianta a análise precisa do volume e intensidade do deslocamento do futebolista em um jogo, onde em detalhes é compreendido que apesar do atleta de futebol se deslocar mais que 9 km em um jogo, a fase ativa da partida, onde de fato o atleta atua e decide o jogo de futebol, é disputado em uma metragem inferior a 1,5 km, em alta intensidade. O futebolista permanece andando, caminhando, ou trotando sob leve intensidade cerca de 80 a 85% do jogo. Nessa fase, a fase passiva, é o momento em que os futebolistas atuam sim no jogo de futebol, mas não decidem ofensiva e defensivamente o jogo. Nessa fase os atletas se recuperam dos estímulos fortes, intensos, dinâmicos e especialmente ultracurtos que compões a fase ativa de futebol.
 
Os gestos específicos do futebolista são intensos e curtos não ultrapassando 4 segundos de execução. Para cada ação motora de alta ou altíssima intensidade, o atleta de futebol recupera em uma partida em média 90 segundos. Portanto em cima desse panorama, como é possível pensarmos que times de futebol ainda se preocupam em correr em linha reta de forma cíclica contínua ou intervalada, se o jogo de futebol é caracterizado por acelerações curtas, desacelerações e gestos específicos com alta intensidade e curtas durações, com um período longo de recuperação?
O futebolista acelera em distâncias máximas de 20 metros em um jogo de futebol, contudo a maior parte dos gestos realizados em aceleração não ultrapassa 10 metros em linha reta. As ações em velocidade na maior parte das vezes acontecem de forma acíclica, com mudança de direção, se caracterizando por desacelerações e novas acelerações na mesma ação. Com esses dados em mãos podemos pontuar que os gestos específicos dos futebolistas em campo são caracterizados por uma reação rápida e curta com a mudança de direção, novamente potencializando a necessidade da reação rápida dos componentes neuromusculares dos futebolistas. Esses gestos rápidos de aceleração e desaceleração são produtos da otimização das derivações da força explosiva, conhecido como um fenômeno natural definido como ciclo alongamento-encurtamento, que tem como regra básica a troca instantânea e precisa da contração excêntrica para concêntrica, também chamada como pliometria.
 
Essa resposta transitória intensa, rápida e precisa, é caracterizada como a principal característica para a velocidade de reação e das respostas rápidas, essenciais para futebolistas. Os treinos realizados em piso pouco denso, como a areia, agem negativamente dentro dos componentes neuro-musculares, aumentando a contração excêntrica e diminuindo a fase de transição entre os dois tipos de contração muscular excêntrico para o concêntrico.
O treino em caixa de areia diminui o componente elástico da musculatura do futebolista, ou seja, proporciona ao atleta de futebol, uma perda da velocidade de reação e das suas respostas imediatas. 
Para se deslocar em alta velocidade, um jogador necessita que o tempo de aplicação de força no solo (no gramado onde joga) seja muito pequeno, mas que promova movimentos muito rápidos, de maneira que a aplicação da força pelo pé do atleta no campo e a reação do campo sobre o pé se expressem de maneira extremamente reativa e explosiva.O tempo de contato a cada movimento entre pé (chuteira) e solo (gramado) deve ser mínimo, e nele (no tempo mínimo) a expressão da força (que garanta a ação rápida) deve ser relativamente máxima e suficiente para a necessidade da própria ação.
E isso, é justamente o contrário do que a "caixa de areia" propicia.
A velocidade de deslocamento do jogador de futebol, a constante mudança de direção e as alternâncias permanentes de ritmo de corrida estão, entre outras coisas, associadas também ao tempo de aplicação e manifestação da força muscular por parte desses jogadores. Esse tempo, para favorecer contrações bastante rápidas, precisa ser mínimo.Trabalhos científicos têm, faz muito tempo (muito mesmo!), mostrado que os efeitos de curto e médio prazo de treinos na caixa de areia não contribuem para o aumento da velocidade de deslocamento ou da força explosiva; pelo contrário, muitos relatos apontam perda de desempenho nesses índices com treinos que a utilizam como meio.
Para elaborarmos um treino, independente do desporto, precisamos antes de focarmos em sobrecarga, individualidade biológica, parâmetros de avaliação física, entre outros igualmente importantes, o objetivo central e primordial deve ser elaborar treinos específicos para cada modalidade. O futebolista nunca vai treinar especificamente em caixa de areia, ou realizando corridas longas. O treino de resistência deve ser realizado com treinos específicos com a bola, em campos reduzidos, treinos em velocidade, entre tantos, sempre em alta intensidade, com períodos de recuperação O treino específico para futebolistas, sempre deve ser realizado no gramado, com os atletas vestindo chuteiras e realizando os movimentos parecidos com os executados nos jogos de futebol.
O principio da especificidade deve ser aplicado em todos os períodos do ano, desde os primeiros treinos até no período preparatório geral, até os últimos treinos do período competitivo. O treinamento físico dentro do futebol brasileiro cada dia mais ganha espaço, e com isso a responsabilidade dos preparadores físicos aumenta. A aplicação de treinos específicos durante toda a temporada de treinamentos, é mais que importante, é uma obrigação dos profissionais da preparação física.



Texto adaptado de: http://fisiologistas.wordpress.com/colunas/colunas-sandro-sargentim/a-especificidade-na-aplicacao-do-treino-para-futebolistas/

Escrito por: Sandro Sargentim.

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